sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Causos.


Um dia ele acordou e tinha alguma coisa diferente. Pela primeira vez, ele não sentiu aquele peso absurdo nos ombros. E ficou feliz, achando que o mundo havia mudado, sendo que, na verdade, quem havia mudado era ele.

Guarda-chuvas coloridos corriam, era cedo e as gotas caiam incessantes do céu. Eu entrei no ônibus meio seca, meio molhada. E ele estava lá. Aquele rapaz, encolhido num dos bancos. Estava lá com olhares hostis, fixados em todos que entravam, como um predador cuidando das suas crias. Olhava como se fosse a última coisa que fossemos ver. O frio na espinha me persegue até hoje. Nunca, nunca mesmo, vou esquecer daqueles olhos.

Ela tinha quatro opções aquela noite. QUATRO. E ela não escolheu nenhuma delas. Porque a opção que ela queria não estava ali. Por isso, decidiu ficar em casa. Como era uma menina boba!

Eu era criança quando vi aquela escada. As pessoas subiam e desciam, subiam e desciam. Eu não entendia. Não entendia porque as pessoas desciam depois de subir. Não entendia porque não podiam ficar lá em cima. Na verdade, talvez até hoje não entendo.

Sempre no mesmo horário ela corria. Eu a via passar do banco que estava sentada com aquela expressão de angústia. Dia após dia ela passava por lá. Correndo. Como se fosse a última coisa que fosse fazer, como se sua vida dependesse disso. Ela sempre estava lá. Correndo. Com aquela expressão de angústia.

Um comentário:

  1. As vezes temos que escolher uma das opções, e quando não houver a quinta, que tal pularmos logo para uma sexta, inventemos uma e a façamos de propósito.
    Gosto de textos soltos, sem porque nem pra quem, sem data, sem nomes. Isso me faz ser parte também.

    Ariela, obrigado pelas vistas, pelas colocações e também pelos teus textos.
    Gostaria de convida-la para escrever algo que pudesse compartilhar lá no meu espaço, pode ser qualquer texto, conto, enfim, fica a seu critério.
    Feliz ano novo!
    Abraços.

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